O apoio político é uma peça fundamental nas campanhas eleitorais, mas até o momento, parlamentares bolsonaristas têm resistido em manifestar suporte à campanha de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), apesar das recentes manifestações de apoio de Jair Bolsonaro (PL). A relação entre o prefeito e o bolsonarismo tem sido marcada por tensões, divergências e estratégias políticas complexas, o que coloca o futuro da campanha de Nunes em um cenário de incerteza.
O Distanciamento dos Parlamentares Bolsonaristas
Desde o início da disputa eleitoral, membros do bolsonarismo afirmam que Ricardo Nunes não representa genuinamente os princípios e valores do movimento. Embora o ex-presidente Jair Bolsonaro tenha optado por apoiar Nunes, há uma percepção entre esses parlamentares de que tal decisão foi tomada com o objetivo de fortalecer os interesses políticos do Partido Liberal (PL), e não como um reflexo dos ideais bolsonaristas.
Mesmo após gestos claros de apoio tanto de Bolsonaro quanto de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), a adesão dos parlamentares bolsonaristas à campanha de Nunes tem sido tímida ou inexistente. As declarações e participações públicas desses políticos em prol do prefeito são quase nulas, especialmente após o crescimento de Pablo Marçal (PRTB) nas pesquisas de intenção de voto, que oferece uma alternativa mais alinhada com o bolsonarismo.
Resistência Pública e Privada
Os deputados estaduais e federais mais próximos de Bolsonaro, como Gil Diniz (PL), Carla Zambelli (PL) e Mario Frias (PL), têm se mantido afastados da campanha de Nunes. Essa ausência é perceptível tanto nos eventos de campanha quanto nas redes sociais, onde esses parlamentares costumam ser bastante ativos. Até o momento, eles não publicaram nenhum conteúdo em apoio ao prefeito.
Esse distanciamento tem implicações políticas significativas, já que o apoio de figuras influentes dentro do bolsonarismo pode ser crucial para mobilizar a base de eleitores mais fiéis ao ex-presidente. No entanto, o silêncio e a ausência de engajamento público desses deputados sugerem que há uma divisão clara dentro do bolsonarismo em relação ao futuro da liderança em São Paulo.
Carla Zambelli e o Apoio a Pablo Marçal
Um dos exemplos mais notáveis dessa divisão é Carla Zambelli. Conhecida por seguir de perto as orientações de Jair Bolsonaro, Zambelli surpreendeu ao declarar seu apoio a Pablo Marçal em vez de a Ricardo Nunes. Um dos principais motivos de sua escolha foi a postura de Nunes durante a pandemia de Covid-19, particularmente em relação à defesa da obrigatoriedade da vacinação e à exoneração de servidores públicos que optaram por não se vacinar.
Em março, Zambelli havia afirmado que consideraria apoiar Nunes caso Bolsonaro fizesse um pedido explícito. No entanto, com o passar do tempo e o fortalecimento de Marçal nas pesquisas, Zambelli preferiu manter sua fidelidade aos valores que defende, optando por apoiar um candidato mais alinhado com suas posições sobre liberdade individual e combate à obrigatoriedade vacinal.
Declarações de Arrependimento e Repercussão Negativa
Ricardo Nunes, por sua vez, tem tentado se aproximar da base bolsonarista, reconhecendo que suas ações durante a pandemia foram impopulares entre esse grupo. Em entrevistas recentes com influenciadores bolsonaristas, Nunes expressou arrependimento por ter adotado medidas como a obrigatoriedade da vacinação e o fechamento de comércios que desrespeitassem as regras de distanciamento social.
Essas declarações foram uma tentativa clara de reconquistar a confiança de eleitores bolsonaristas, que se sentiram traídos pelas políticas rígidas implementadas durante a crise sanitária. No entanto, tais falas também geraram desconforto entre seus aliados políticos que não se identificam com o bolsonarismo, evidenciando as dificuldades que Nunes enfrenta ao tentar equilibrar apoios de diferentes espectros políticos.
A Estratégia do PL e o Futuro da Campanha de Nunes
A decisão de Bolsonaro de apoiar Ricardo Nunes pode ser vista como uma estratégia do Partido Liberal para consolidar poder em São Paulo, um dos maiores e mais importantes redutos eleitorais do país. No entanto, a falta de adesão dos parlamentares bolsonaristas revela um problema maior: a dificuldade de unir as diferentes alas do conservadorismo em torno de uma única candidatura.
O distanciamento dos parlamentares bolsonaristas, como Gil Diniz, Carla Zambelli e Mario Frias, demonstra que a campanha de Nunes enfrenta desafios internos significativos. A ausência de declarações públicas de apoio e a falta de engajamento nas redes sociais são sinais claros de que esses parlamentares ainda não estão convencidos de que Nunes representa seus interesses e os de seus eleitores.
Com a proximidade das eleições, a campanha de Nunes precisará encontrar formas de resolver essas tensões e conquistar o apoio de uma base política que, até o momento, tem se mostrado relutante em declarar seu suporte. O futuro da campanha dependerá, em grande parte, da habilidade de Nunes em equilibrar os diferentes interesses políticos e reconstruir sua imagem junto aos eleitores conservadores.
Um Cenário de Incerteza
A falta de apoio dos parlamentares bolsonaristas à campanha de reeleição de Ricardo Nunes coloca a eleição para a Prefeitura de São Paulo em um cenário de incerteza. Enquanto Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro, declararam apoio ao prefeito, figuras influentes do bolsonarismo permanecem distantes, seja por divergências políticas ou por estratégias eleitorais.
O desafio de Nunes será, nas próximas semanas, tentar reunir essas forças em torno de sua candidatura, enfrentando a resistência interna dentro do próprio bolsonarismo, ao mesmo tempo em que busca manter o apoio de aliados que não compartilham dos mesmos valores políticos.